Aliciador oferecer dinheiro a presidente de clube goiano sem saber que ele é delegado

Operação da Polícia Civil de Goiás mira grupo suspeito de manipular resultados de jogos de futebol em seis estados – Foto: Divulgação/Polícia Civil
Operação que mira suspeitos de manipular resultados de partidas de futebol teve início após um dos aliciadores tentar convencer o então presidente do Goianésia Esporte Clube, Marco Antônio Maia, a participar do esquema, sem saber que ele também era delegado. Os valores variavam de R$ 300 mil a R$ 500 mil por resultado de jogos do Goianésia em que Marco Antônio conseguisse interferir, informou o ex-presidente.
O ex-presidente do clube disse à reportagem que os valores combinados foram muitos, e variavam de acordo com a época e com quanto a organização criminosa conseguisse arrecadar. Além disso, haveria uma comissão caso o ex-presidente indicasse outros times para participar do esquema.
“De forma abusada [o aliciador] ofereceu quantias elevadas para que o ex-presidente do Goianésia interferisse em partidas do próprio time no campeonato goiano, ou que conseguisse algum time goiano que disputasse a série D do campeonato brasileiro”, explica o delegado Eduardo Gomes, um dos responsáveis pelo caso.
De acordo com a polícia, o aliciador forneceu R$ 1 milhão para cada clube que topasse participar do esquema, intermediado por Marco Antonio.
A partir da denúncia do ex-presidente do clube, a polícia realizou a investigação para identificar o aliciador e verificar se ele possuía envolvimento com outros times do estado ou em competições de âmbito nacional. A polícia descobriu que a organização criminosa atuava em vários estados e também fora do país, e que movimentou cerca de R$ 11 milhões, informou o delegado.
Em um primeiro momento, a investigação identificou três núcleos de atuação: os financiadores, os aliciadores e os profissionais do esporte.
Em nota, o Goianésia Esporte Clube disse que repudia qualquer tentativa de manipulação de resultados no futebol brasileiro. O clube disse ainda que não compactua com nenhuma prática que prejudique a integridade das competições e continuará colaborando com as investigações para que todos os responsáveis sejam devidamente identificados e punidos (veja a nota completa ao fim do texto).
Operação
A Polícia Civil de Goiás cumpriu, na manhã desta quarta-feira (9), 16 ordens judiciais contra o grupo. Entre os investigados, estão jogadores, treinadores e dirigentes de clubes.
Ao todo, foram expedidos nove mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão temporária. Um dos alvos, o ex-árbitro de futebol Dguerro Batista Xavier, foi preso em João Pessoa. Ele já estava afastado desde a Operação Cartola, em 2018, que investigou fraudes no futebol paraibano, mas ainda mantinha articulações e contatos no meio esportivo e atuava como árbitro amador.
À TV Cabo Branco, o ex-árbitro afirmou que não sabia o motivo da prisão e negou envolvimento nos crimes apontados pela investigação. A Polícia Civil não informou quais jogos teriam sido alvo de manipulação.
Além do ex- árbitro, já foram identificados também, o presidente de um clube da Federação Cearense de Futebol e dois ex-jogadores.
A polícia não divulgou os nomes dos demais suspeitos que integram o grupo investigado na operação. Ainda segundo a Polícia Civil, o valor de R$ 11 milhões movimentado pelas fraudes foi obtido também por meio de plataformas de apostas.
“Eles pegam os valores investidos por estes financiadores e com a certeza de que o resultado vai acontecer, realizam grandes apostas nas casas de apostas online, tendo um retorno até três vezes maior que o valor investido”, diz o delegado.
Intitulada “Jogada Marcada”, a operação da Polícia Civil de Goiás é conduzida pelo Grupo Antirroubo a Banco (GAB), da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Nota do Goianésia Esporte Clube:
“O Goianésia Esporte Clube vem a público manifestar seu total repúdio a qualquer tentativa de manipulação de resultados no futebol brasileiro.
Em 2023, o presidente do Conselho do Goianésia, Marco Antônio Maia, recebeu uma proposta de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para que o clube participasse de um esquema de manipulação de partidas do Campeonato Goiano. Diante da gravidade do fato e do compromisso ético que temos com o esporte, ele imediatamente comunicou as autoridades competentes, contribuindo diretamente para o desencadeamento da Operação Carta Marcada, deflagrada nesta quarta-feira, 9 de abril, pela Polícia Civil.
É importante ressaltar que, sendo também delegado de polícia, por questões de transparência e imparcialidade, Marco Antônio Maia optou por não conduzir pessoalmente a investigação, garantindo assim a integridade do processo.
O Goianésia Esporte Clube reafirma seu compromisso com a ética, a honestidade e o respeito ao futebol brasileiro. O clube não compactua com nenhuma prática que prejudique a integridade das competições e continuará colaborando com as investigações para que todos os responsáveis sejam devidamente identificados e punidos.
Seguimos firmes na defesa de um futebol limpo, competitivo e digno de sua torcida.
Marco Antônio Maia – Presidente do Conselho”
Goianésia Esporte Clube