Centros de imigrantes detidos nos EUA, chega à capacidade máxima

Agentes do Serviço de Imigração e Alfândega detêm um homem após realizar uma batida no complexo de apartamentos Cedar Run em Denver – Foto: REUTERS/Kevin Mohatt
A detenção de imigrantes nos Estados Unidos atingiu a capacidade máxima de 47.600, afirmou uma autoridade sênior do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), em uma conversa com repórteres nesta quarta-feira (12), segundo a agência de notícias Reuters.
A autoridade, que pediu anonimato como condição para dar as declarações, disse que o ICE está conversando com legisladores para garantir um financiamento e, em parceria com o Departamento de Defesa dos EUA, do Serviço de Delegados dos EUA e do Bureau of Prisons, abrir novos leitos e expandir sua capacidade de detenção.
O alto número de detenções atende o pedido feito pelo presidente Donald Trump logo após sua posse, no dia 20 de janeiro.
No começo de fevereiro, depois de pouco mais de duas semanas de governo Trump, 11 mil ilegais haviam sido presos, segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.
Tom Homan, o ‘czar da fronteira’ do presidente americano, disse que as operações estavam só no começo. “Precisamos de mais deportações, muito mais”.
Cerca de 11 milhões de imigrantes estão nos EUA em situação ilegal ou com status temporário, segundo estimativas do início de 2022 do governo dos EUA. Atualmente, o número pode estar na casa dos 14 milhões.
“Ilegais”, “criminosos” e “delinquentes” são apenas alguns dos adjetivos utilizados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para caracterizar migrantes sem documentação que estão em seu país, em especial vindos de nações da América Latina.
Desde antes do início de seu governo, em 20 de janeiro, o mandatário republicano trabalhou em um forte discurso anti-imigração. Em menos de duas semanas à frente da Casa Branca, Trump anunciou diversas políticas para facilitar a deportação em massa, como prometido em sua campanha presidencial.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) do México, que atua na assistência médica, alimentar e psicológica de migrantes que estão nas rotas de trajeto em direção aos Estados Unidos resume as políticas adotadas por Trump em alguns pontos principais:
Declaração de emergência na fronteira sul, que implica na militarização da região e mudanças no processo imigratório; suspensão temporária para receber refugiados nos EUA; restabelecimento da política “Fique no México”; e a suspensão do aplicativo CBP One, única forma de solicitar asilo no país.
“Como uma organização que trabalha com migração há mais de 12 anos no México, testemunhamos diferentes leis que afetaram os migrantes ao longo desse período, mas especificamente com o segundo mandato de Trump, o que vimos é que as medidas foram implementadas de forma muito rápida, sem nenhum plano de mitigação”, avalia ao Brasil de Fato o coordenador do MSF no México, Henry Rodríguez.
Em relação à suspensão do aplicativo para solicitar asilo nos EUA, Rodríguez afirma que havia milhares de pessoas com entrevistas agendadas para dar sequência à sua documentação e ficaram “no limbo, sem respostas, e deixados sem documentos, mas também sem possibilidade de entrar nos Estados Unidos” de forma legal.
Assim, migrantes no processo de se regulamentar nos Estados Unidos, em um procedimento difícil e envolto na rejeição e xenofobia, foram transformados em imigrantes sem documentação.
“Essas medidas causam reação no eleitor de Trump, porque seu discurso, quando candidato, foi muito focado no fato de que os problemas nos Estados Unidos eram resultado da migração. Ao deportar as pessoas, Trump tenta cumprir sua palavra, de acordo com seu lema de ‘limpar’ o país”, avalia Rodríguez.
O líder humanitário explica que há dez anos a migração em direção aos Estados Unidos “estava muito relacionada a homens jovens que vinham de gangues estabelecidas na América Central”.
Contudo, atualmente o perfil das pessoas que se deslocam de seus países de origem mudou e agora são “núcleos familiares”, e assim, as afirmações de Trump tentam “estigmatizar e degradar” qualquer pessoa migrante.