Ex-delegado-geral de São Paulo é assassinado em emboscada na Praia Grande

Ruy Ferraz Pontes foi morto a tiros na Baixada Santista – Foto: Prefeitura de Praia Grande e Reprodução
Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo, foi assassinado na Praia Grande, no litoral sul, no início da noite desta segunda-feira, 15. Ele foi baleado em uma emboscada enquanto saía da sede da Prefeitura de Praia Grande.
Tarcísio determina mobilização total de policiais para encontrar assassinos de ex-delegado-geral
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), determinou que a Polícia Civil se mobilize por completo para chegar aos assassinos do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, executado nesta segunda-feira (15) no litoral paulista.
“Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado. O delegado Ruy percebeu que estava sendo atacado, tentou escapar da emboscada, mas foi covardemente assassinado”, disse o governador.
A Força-terefa, segundo Tarcísio, envolverá o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), principalmente. Ambos os departamentos contam com policiais que têm muitos informantes no crime organizado e que podem ajudar a elucidar a execução de Ruy.
Fontes, 64 anos, ficou conhecido por sua atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele chefiou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, após ser nomeado para o cargo de delegado-geral no então governo João Doria (na época no PSDB).
Em 2006, ele foi o responsável por indiciar toda a cúpula do PCC, inclusive Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, antes de os bandidos serem isolados na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Quatro anos depois, a Inteligência Policial conseguiu interceptar um plano do PCC para matar Fontes. Dois homens foram presos em frente ao 69.º DP, na zona leste de São Paulo, com um fuzil. Eles estariam de tocaia para matar o delegado.
Fontes era atualmente secretário de Administração Pública de Praia Grande e despachou na prefeitura normalmente nesta segunda-feira. Quinze minutos antes de sair do prédio, conversou por telefone com o procurador de Justiça Márcio Christino. “Fui o último a conversar com ele. Ele não estava fazendo nada ligado à segurança, estava afastado da área”, afirmou o procurador.
De acordo com o procurador, Fontes saiu da prefeitura e foi seguido por bandidos em uma Hilux. Imagens de câmeras de segurança mostram que o ex-delegado estava em alta velocidade, provavelmente fugindo dos bandidos, quando entrou em um cruzamento e foi atingido por um ônibus. Seu carro capotou e ficou imprensado. Três bandidos descem então da picape com fuzis e atiram no delegado, que reagiu.
Para promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) ouvidos pelo Estadão, “tudo indica que foi um crime de máfia”. Outra hipótese investigada pela polícia é a possibilidade de o crime estar ligado a uma licitação na Prefeitura de Praia Grande que teria prejudicado uma entidade ligada aos criminosos. No começo da noite, um carro suspeito de ter sido usado pelos bandidos foi encontrado em chamas.
De acordo com o secretário-adjunto da Segurança Pública, delegado Oswaldo Nico Gonçalves, Fontes teria conseguido balear um dos criminosos. Policiais de São Paulo foram despachados para a Baixada Santista.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que irá dedicar “toda energia” à investigação do crime. “Com pesar, lamentamos profundamente o assassinato de um policial com muitos anos de trabalho dedicados à corporação, que ocupou inclusive seu posto mais elevado. Iremos dedicar toda energia à investigação do crime”, disse em nota.

Policiais da capital foram enviados para o litoral sul para tentar encontrar os responsáveis pela morte de Fontes. – Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Ruy, como era conhecido, já havia escapado em outra oportunidade de um plano para assassiná-lo. Ele trabalhava então no 69.º DP, na Cohab Teotônio Vilela. Era 2010. O delegado havia acabado de deixar a Delegacia de Roubo a Bancos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), quando o plano de bandidos ligados ao PCC foi descoberto. Dois homens foram presos em frente ao 69.º DP com um fuzil. Eles estariam de tocaia para matar o policial.
Fontes dirigiu ainda o Departamento de Narcóticos, onde foi responsável pela primeira grande investigação que traçou as ações de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o narcotraficante do PCC que foi detido em 2020 em Moçambique e extraditado para o Brasil. Em 2019, ele comandava a Delegacia-Geral quando Marcola e a cúpula do PCC foram transferidos para presídios federais.
Uma das suspeitas da polícia é de que a ação tenha sido obra da Sintonia Restrita, o grupo de pistoleiros do PCC responsável no passado por planos para sequestrar o ex-juiz Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco). “Ainda não podemos afirmar. Mas vamos tentar localizar esse bandido que ele teria baleado”, afirmou Nico.
Moro usou as redes sociais para homenagear Fontes. “O delegado Ruy Fontes foi um corajoso delegado-geral da Polícia Civil de SP que enfrentou o crime organizado. Comandava a Polícia quando os líderes do PCC foram isolados em presídios federais de segurança máxima. Triste dia para as forças da lei. O crime não pode prevalecer. Que os assassinos sejam identificados e punidos com o máximo rigor”, escreveu.
Delegado de polícia por mais de 40 anos, Ruy Ferraz Fontes iniciou a carreira como delegado titular da Delegacia de Polícia do Município de Taguaí (Deinter 7). Ao longo dos anos, foi também delegado assistente da Divisão de Homicídios do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegado titular da 1ª Delegacia da Divisão de Investigações Sobre Entorpecentes do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), delegado titular da 5.ª Delegacia de Investigações Sobre Furtos e Roubos a Bancos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e comandou outras delegacias e divisões na Capital.
Também esteve à frente da Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo e foi diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP). Ruy assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande em janeiro de 2023, permanecendo na gestão que se iniciou em 2025.
‘Terceira grande vingança’
Caso seja confirmada a participação do PCC no crime, esta seria a terceira “grande vingança” promovida pela facção contra autoridades que combateram o grupo dentro e fora dos presídios.
A primeira do grupo foi a do juiz-corregedor Antônio Machado Dias, assassinado em Presidente Prudente, no interior paulista, em março de 2003. Rogerio Jeremias de Simone, integrante da cúpula da facção, foi acusado de ser o mandante do crime.
A segunda vítima “excelente” da facção foi o diretor de presídios José Ismael Pedrosa. Ele era o chefe do Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, quando seis detentos fundaram a facção.
Antes, chefiara a antiga Casa de Detenção do Carandiru, onde, em 2 de outubro de 1992, 111 presos foram massacrados por policiais militares. Este teria sido o motivo de seu assassinato: um ato do PCC para angariar simpatia da chamada massa carcerária.