A atriz Thaiane Maciel está mobilizando mutirões estratégicos no Rio de Janeiro para a coleta de lixo descartado irregularmente em pontos turísticos da cidade. A ação, que tem participação de 1,5 mil voluntários, já recolheu mais de 130 toneladas de resíduos.
Ela conta que os mutirões começaram devido à iniciativa de um irmão dela. Durante a pandemia, os dois gostavam de caminhar pela Ilha do Governador, na Baía de Guanabara, zona norte do Rio de Janeiro. Nessas caminhadas, a atriz sempre reclamava da quantidade de lixo deixada nas praias.
“Aí, um dia ele pegou uma sacola plástica e foi sozinho caminhar, tirou uma foto e me mandou: ‘Olha, fiz pensando em você’. Depois fomos eu, ele, minha avó e minha irmã. A partir daí, foram os amigos dele que começaram a vir e depois foram os voluntários”, ressaltou.
A artista classifica o projeto, que recebeu o nome de “Novo Mundo”, como uma ação socioambiental porque não promove apenas a limpeza dos locais. Segundo a artista, os mutirões têm como objetivo sensibilizar a população sobre a relação entre o descarte de resíduos e os problemas crônicos enfrentados pelo Rio de Janeiro, sobretudo as enchentes e a ligação da poluição plástica com as mudanças climáticas
Os voluntários aproveitam as ações para falar sobre o tempo de decomposição dos materiais no meio ambiente, distribuir produtos ecológicos e falam sobre a importância de mudanças de hábitos para frear esses problemas com o clima e meio ambiente.
“Sabemos que a falta de políticas públicas e de saneamento básico é o ponto principal para a diminuição da poluição, mas as ações educativas são extremamente importantes para conscientizar e para as pessoas saberem de seus direitos e como podem agir. Seja dessa forma, que é uma organização da sociedade civil ou até mesmo de forma individual, estamos enfrentando a redução do consumo”, disse.
A participação dos voluntários é bem democrática. Eles precisam apenas preencher um formulário no site oficial do Novo Mundo. Nesse cadastro, o interessado ou interessada escolhe o local onde deseja atuar de acordo com o cronograma de datas disponibilizadas. A partir disso, conta Thaiane, a comunicação pré-mutirão ocorre por meio de e-mails, mensagem direta ou pelo grupo no WhatsApp.
“O critério de candidatura dos voluntários é a vontade de mudar o mundo e a disposição para conhecer outras pessoas com esse mesmo desejo. No paralelo ao trabalho físico, as nossas ações são bem ecléticas, têm distribuição de produtos ecológicos para estimular o consumo, uma parte recreativa e uma jornada de conteúdo sobre meio ambiente. Temos experimentado a assiduidade dos nossos parceiros com novos mutirões, o que muito nos motiva. Temos na equipe educadores ambientais, produtores de conteúdo e até planejador”, explica.
Antes de começarem as ações, o projeto reúne os participantes e realiza uma roda de conversa inicial para as apresentações e para entender as expectativas de cada voluntário. Depois, é dado início a uma jornada do conhecimento, em que debatem a cadeia ambiental, com abordagens sobre resíduos, decomposição, coleta seletiva e a correlação da poluição com os problemas crônicos, a exemplo das mudanças climáticas. Em seguida, partem para a limpeza dos locais devidamente equipados.
Após todo o recolhimento, os materiais são pesados e separados entre o que pode ou não ser reciclado. Os recicláveis são destinados às 26 cooperativas de catadores credenciadas na Comlurb, principal parceiro do projeto, para que a coleta seletiva seja realizada. Já os resíduos comuns não recicláveis são enviados para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR-Rio), para serem aproveitados pela indústria.
O projeto torna a cidade mais limpa e estimula a população a exercer a sua cidadania, argumenta a idealizadora, mas a atriz reforça que há várias outras formas de exercitar a cidadania.
“Seja por meio do nosso voto, que é importante instrumento para avançarmos com leis e projetos em prol do meio ambiente. Mas você pode começar de qualquer lugar e provavelmente a sua comunidade é o local que mais precisa de você. Acho que esse é um bom exemplo, pois meu irmão começou sozinho as ações de limpeza. Hoje fomos eleitos Unesco Green Citizens, um importante reconhecimento para iniciativas inovadoras da sociedade civil em prol do meio ambiente, que são replicáveis”, disse.
Thaiane lembra que tem uma relação com o meio ambiente desde a infância. Ela e seus irmãos estudaram uma escola na Ilha do Governador que oferecia aulas de reciclagem e reaproveitamento de alimentos. Esse período, segundo ela, foi muito marcante para eles. Tanto que até se formou em Engenheira Ambiental pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Hoje, a artista acredita que cuidar do meio ambiente é obrigação de todos, mas, como figura pública, pode usar a influência para potencializar a voz das causas ambientalistas.
“Sempre me incomodou muito figuras públicas que nunca fizeram nada em prol do planeta. Geralmente temos um alcance maior, uma figura pública consegue chegar em mais pessoas, então por que não passar mensagens positivas? Por que não estimular a ação e a cidadania? Nunca entendi pessoas com milhões de seguidores que não se posicionam em relação ao cuidado com o meio ambiente, apenas estimulam o consumo.”.
Fonte: uol
