Presidente da Coreia do Sul declara lei marcial e volta atrás após Parlamento derrubar a decisão
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, decretou lei marcial nesta terça (3), pegando o país de surpresa em meio a uma grave disputa com a oposição no Parlamento. Atividades políticas e liberdades civis estão banidas.
“Eu declaro lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas da Coreia do Norte, para erradicar as desprezíveis forças antiestatais pró-Coreia do Norte que estão pilhando a liberdade e a felicidade do nosso povo, e para proteger a ordem constitucional”, disse Yoon.
Após o voto do Parlamento, Yoon reuniu o seu gabinete, decidiu recuar e revogou a medida.
A oposição disse que não reconhece a medida e que ela aponta uma tentativa de golpe por parte do presidente. Até aliados do presidente, como o líder de seu partido, criticaram a ação.
Segundo o Comando de Lei Marcial, instituído por Yoon, liberdades civis estão restritas. Todos que desrespeitaram regras poderão ser presos, segundo divulgou o Exército, e a as atividades políticas de partidos dentro e fora do Parlamento estão proibidas por ora.
Lei marcial geralmente é evocada em tempos de guerra -a rigor, Seul está num conflito congelado com Pyongyang desde o armistício que pôs fim a três anos de combate em 1953.
Yoon, do conservador Partido do Poder do Povo, tem enfrentado resistência do Congresso, que é controlado pelos liberais do Partido Democrático -a agremiação oposicionista soma 170 dos 190 assentos contrários ao governo, que tem 108 deputados.
A mais recente querela é sobre o orçamento do ano que vem, que adversários dizem ser uma cortina de fumaça para tirar foco de escândalos envolvendo aliados e até mesmo sua mulher.
O líder da oposição, Lee Jae-myung, afirmou que a lei marcial é inconstitucional. Ele convocou uma reunião de emergência no Parlamento com membros de seu partido, mas foi barrado na porta por soldados, segundo a mídia local.
A acusação de que a oposição apoia a Coreia do Norte também parece fora de lugar. Nos últimos meses, a aprovação de Yoon havia caído aos piores níveis desde que assumiu o governo, em 2022. Na semana passada, o instituto Gallup Korea apontou que apenas 19% dos sul-coreanos apoiam o líder.
Seu rival Lee, a quem Yoon derrotou marginalmente na eleição presidencial passada, disse à agência Yonhap que o país será “governado por tanques, blindados de transporte de pessoal e soldados com armas e facas’.
“A economia da República da Coreia vai colapsar de forma irreversível. Meus concidadãos, por favor venham à Assembleia Nacional”, disse, usando os nomes formais do país e do Congresso. A Bolsa de Seul poderá não abrir nesta quarta (4), e há o won, moeda local, sofreu queda ante o dólar.
A crise ocorre no momento de grave tensão com a Coreia do Norte, cujo ditador Kim Jon-un recrudesceu a retórica militarista e até explodiu estradas que ligavam os dois países. Kim assinou um polêmico acordo de defesa mútua com a Rússia de Vladimir Putin e aparentemente enviou soldados para lutar na Ucrânia.
Os Estados Unidos, principais fiadores de Seul, disseram estar “monitorando a situação, segundo a Casa Branca. Yoon é um aliado próximo de Washington, vital para a estratégia americana de tentar conter a China no teatro da Ásia-Pacífico.
A gravidade da crise, apesar das contínuas rusgas entre governo e oposição, não era esperada. A política sul-coreana sempre contrastou com sua pujança econômica, sendo um campo minado de disputas.