Simplicidade e tijolo como elemento-chave: conheça o projeto da casa da favela da Serra que concorre a prêmio internacional

Casa do artista Kdu dos Anjos, projetada pelos arquitetos Fernando Maculan e Joana Magalhães, tem sala, cozinha, quarto, banheiro e varanda com visão privilegiada.

Simplicidade. É dessa forma que o arquiteto Fernando Maculan define o conceito da “Casa no Pomar do Cafezal”, localizada na Vila Cafezal, no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O imóvel, do artista Kdu dos Anjos, está concorrendo à Casa do Ano no projeto internacional ArchDaily.

“A característica principal dessa casa é a de se diferenciar das outras, não pelos materiais ou pelo sistema construtivo, que basicamente são os mesmos, já muito comuns na favela, mas sim por um cuidado com questões ambientais, uma atenção para maneiras de ventilar a casa de forma natural, trazer a luz natural para todos os espaços”, afirmou Maculan.

Ele e a arquiteta Joana Magalhães são os autores do projeto, que também teve a colaboração de Cássio Lopes e Ricardo Lobato. O trabalho começou em 2018 e foi concluído em 2020, por meio do coletivo Levante, uma união de arquitetos, estudantes e engenheiros voltada para a arquitetura na periferia.

De acordo com Maculan, o elemento-chave do projeto é o tijolo, muito comum em construções na favela e que, a distância, faz com que o “Barraco do Kdu” seja igual às casas vizinhas. A diferença é que os tijolos foram dispostos de forma horizontal.

“Quando se chega mais perto, se a pessoa começa a vivenciar o espaço, ela vai entender que existem muitas diferenças, que começam por uma proposta de assentar os tijolos na horizontal, o que muda a aparência do tijolo à vista, que deixa de ter uma eventual aparência de algo inacabado para se apresentar como um grafismo, uma forma muito bonita, delicada desse material aparecer”, disse o arquiteto.

Segundo ele, os tijolos na horizontal também contribuem para a eficiência térmica da casa, de 66,56 metros quadrados.

Outros diferenciais da construção são o piso vermelho e o uso de pergolado com peças de eucalipto roliço na área externa.

Para Maculan, a indicação ao prêmio é uma oportunidade para que as soluções ambientais adotadas na Casa no Pomar do Cafezal sejam replicadas na periferia. É o que ele espera e deseja.

“A gente vai criando algumas soluções que são muito simples, qualquer um pode fazer, mas que vão garantir uma melhor ventilação natural, permitir que o ar cruze pelos cômodos, que tenham por onde sair, escapar, mesmo em um espaço apertado e de divisas compartilhadas com os vizinhos, a iluminação natural muito farta. Tudo isso para um ambiente que seja mais saudável e mais gostoso de permanecer”, afirmou o arquiteto.

A votação do prêmio vai até o dia 15 de fevereiro pela internet.

Veja mais fotos:

Área externa da casa do Kdu dos Anjos, em BH — Foto: Leonardo Finotti/Divulgação

Fonte: g1