Israel e Hamas assinam acordo de cessar-fogo em Gaza
Após a notícia do cessar-fogo, moradores de Gaza e de Israel foram para as ruas celebrar o acordo – Foto: Divulgação
Israel e o Hamas fecharam um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns nesta quarta-feira (15). O anúncio oficial foi feito pelo primeiro-ministro da Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, responsável pelas reuniões com os negociadores do Hamas e, separadamente, os negociadores israelenses. O acordo também envolveu negociadores do Egito.
“Esperançosamente, esta será a última página”, declarou o primeiro-ministro catari sobre a guerra.
O acordo foi confirmado logo em seguida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Ele disse que o acordo “interromperá os combates em Gaza, enviará a assistência humanitária tão necessária para os civis palestinos e reunirá os reféns com suas famílias após mais de 15 meses de cativeiro”.
Nas redes sociais, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump disse: “Temos um acordo para os reféns no Oriente Médio. Eles serão libertados em breve.”
De acordo o serviço de verificação da BBC, dos 251 reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, 94 continuam em Gaza, acredita-se que 60 estejam vivos e 34, mortos.
Ainda não foram divulgados os detalhes do acordo, mas o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Hamas “cedeu” devido à “postura firme” do líder israelense contra as demandas de última hora relacionadas ao posicionamento de forças israelenses no chamado Corredor Filadélfia, entre Gaza e Egito.
No entanto, o gabinete de Netanyahu destacou que “ainda há várias cláusulas não resolvidas” no acordo que precisam ser tratadas.
A expectativa é de que os detalhes sejam finalizados nas próximas horas desta quarta e que o acordo seja aprovado pelo gabinete israelense na manhã de quinta-feira (16/1).
Após o anúncio do cessar-fogo, o negociador chefe do Hamas declarou que, apesar do acordo, o grupo “não perdoará” Israel pelo sofrimento em Gaza durante a guerra.
“Em nome de todas as vítimas, de cada gota de sangue derramada e de cada lágrima de dor e opressão, dizemos: Não esqueceremos e não perdoaremos”, disse Khalil al-Hayya, acrescentando que Israel falhou em atingir seus objetivos na operação militar em Gaza.
Como vai funcionar o acordo:
1ª etapa, que durará cerca de um mês e meio: o cessar-fogo prevê a devolução de 33 reféns — vivos ou mortos (incluindo mulheres, crianças, homens acima de 50 anos, feridos e doentes).
Israel acredita que a maioria está viva, mas não recebeu confirmação oficial do Hamas.
Além disso:
- Haverá segurança no corredor da Filadélfia – uma faixa de território ao longo da fronteira de Gaza com o Egito –, onde Israel também irá se retirar de partes dele após a primeira fase do acordo;
- Residentes desarmados do norte de Gaza poderão retornar, considerando que nenhuma arma seja transportada;
- Tropas israelenses se retirarão do corredor Netzarim, no centro de Gaza;
- A travessia de Rafah, entre o Egito e Gaza, começará a operar gradualmente, permitindo a passagem de pessoas doentes e casos humanitários para tratamento fora do enclave;
- Haverá um aumento significativo na ajuda humanitária à Faixa de Gaza, onde organizações internacionais, incluindo a ONU, afirmam que a população enfrenta uma grave crise humanitária.
2ª etapa, que deve começar no décimo sexto dia após o início do acordo: libertar os demais reféns vivos — soldados e civis jovens do sexo masculino —; e os corpos dos que morreram serão devolvidos
Em troca, Israel libertará mais de 1.000 prisioneiros e detidos palestinos, incluindo 30 que cumprem sentenças de prisão perpétua.
No entanto, os integrantes do Hamas que participaram do ataque de 7 de outubro de 2023 em Israel não serão libertados.
A retirada contará com as forças israelenses permanecendo ao longo da fronteira de Gaza para proteger as cidades e vilarejos fronteiriços de Israel.
3ª etapa, que também deve começar no décimo sexto dia após o início do acordo: consiste nas negociações sobre a reconstrução de Gaza, que levaria ao fim da guerra. Porém, existe um debate sobre quem comandará a região e não há garantias de que aconteça, de fato, o encerramento do conflito.
Quem ficará no poder?
Quem administrará Gaza após a guerra é uma incógnita nas negociações. Parece que essa questão foi deixada de fora da proposta atual devido à sua complexidade e à probabilidade de atrasar um acordo limitado.
A comunidade internacional insiste que Gaza deve ser administrada pelos palestinos, mas esforços para encontrar alternativas entre líderes da sociedade civil ou clãs locais têm sido amplamente infrutíferos.
No entanto, houve discussões entre Israel, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos sobre uma administração provisória para governar Gaza até que uma Autoridade Palestina reformada possa assumir o controle.
O conflito na Faixa de Gaza começou quando terroristas do Hamas fizeram uma invasão inesperada ao sul de Israel, matando mais de 1.200 pessoas e sequestrando mais de 200. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao Hamas, que governava a Faixa de Gaza.