Inflação acelera em maio com pressão de alimentos e impacto das chuvas no RS
Com a pressão dos preços dos alimentos, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou a 0,46% em maio, indicam dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A variação veio após taxa de 0,38% em abril e já reflete impactos da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, entre outros fatores, segundo o instituto.
As enchentes dizimaram plantações e travaram o escoamento de produtos no estado. Não à toa, Porto Alegre teve a maior inflação entre as 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE: 0,87%.
No Brasil, o IPCA de 0,46% ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam taxa 0,42% em maio.
No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira acelerou a 3,93%, apontou o IBGE. Nesse recorte, o IPCA vinha em trajetória de desaceleração desde outubro de 2023. O índice era de 3,69% até abril.
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 tiveram alta de preços no mês de maio. O segmento de alimentação e bebidas até desacelerou o ritmo de avanço (de 0,70% em abril para 0,62% no mês passado). Ainda assim, exerceu o principal impacto no IPCA: 0,13 ponto percentual.
O IBGE sinalizou que o resultado dos alimentos foi impulsionado pela alta de tubérculos, raízes e legumes (6,33%). O destaque veio da batata-inglesa, com aumento de 20,61%. Foi o maior impacto individual sobre o índice geral.
O IBGE associou o quadro ao período de menor oferta com a mudança de safra da batata e aos efeitos das fortes chuvas de maio no Rio Grande do Sul. A tragédia trouxe alerta para a inflação, já que o estado tem tradição na produção de alimentos.
“Em maio, com a safra das águas na reta final e um início mais devagar da safra das secas, a oferta da batata ficou reduzida. Além disso, parte da produção foi afetada pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, que é uma das principais regiões produtoras”, disse o gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida.
Além da batata-inglesa, outros alimentos com grande presença na mesa dos brasileiros também subiram em maio. Isso inclui a cebola (7,94%), o leite longa vida (5,36%) e o café moído (3,42%).
“O leite está em período de entressafra, e houve queda nas importações. Essa combinação resultou em uma menor oferta. Em relação ao café, os preços das duas espécies têm subido no mercado internacional, o que explica o resultado de maio”, disse Almeida.
O pesquisador do IBGE ainda lembrou que o Rio Grande do Sul possui influência na produção nacional de leite. Pecuaristas locais tiveram perdas com as fortes chuvas.
As enchentes também impactaram o processo em si da coleta dos preços na região metropolitana de Porto Alegre. Os alagamentos fecharam ruas e paralisaram empresas, dificultando o trabalho presencial das equipes do IBGE.
Com os obstáculos, o instituto disse que reforçou a coleta de preços por telefone ou internet. A modalidade remota, que respondia por cerca de 20% do total, passou para aproximadamente 65% na Grande Porto Alegre em maio.
Ainda assim, nem todos os subitens do IPCA puderam ser coletados por telefone ou internet, incluindo hortaliças e verduras, reconheceu o IBGE.
Nos casos de ausência de informações, o órgão realizou a chamada imputação de dados. Trata-se de um procedimento previsto pelo instituto em contextos como o do Rio Grande do Sul.
Na imputação, se o IBGE não encontrou, por exemplo, o preço de um alimento em determinado ponto comercial, pode recorrer a uma média dos valores cobrados pelo mesmo produto em estabelecimentos similares.
Em Porto Alegre, o IPCA de 0,87% foi puxado pela carestia de mercadorias como batata-inglesa (23,94%), gás de botijão (7,39%) e gasolina (1,80%), de acordo com o instituto. Durante a crise, o Rio Grande do Sul teve dificuldades logísticas para movimentar produtos como combustíveis.
O IPCA serve como referência para a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central), cujo centro é de 3% em 2024.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Logo, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado do ano.
O mercado financeiro prevê alta de 3,9% para o índice em 2024, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (10) pelo BC. A estimativa segue abaixo do teto da meta (4,5%), mas foi revisada para cima pela quinta semana consecutiva.